Alguns dos principais atores do ecossistema de inovação recifense Porto Digital se uniram a protagonistas locais para impulsionar o que será um centro de empreendedorismo tecnológico de Manaus.
Resultado de esforços da comunidade de inovação manauara que se intensificaram nos últimos dois anos, a Associação do Polo Digital de Manaus (APDM) foi criada no dia 6 de fevereiro, com cinco membros fundadores.
O grupo inicial de apoiadores é composto do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), que é uma das organizações âncora do Porto Digital; a Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex); o Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia; o Instituto de Pesquisas Eldorado; e o coworking ValleyUp.
O intuito do projeto é reduzir a dependência do setor da indústria e fomentar a economia local com novos negócios, além de criar uma estrutura de governança e incentivos para impulsionar o crescimento e relevância nacional da economia digital da região amazônica.
“Hoje a economia da cidade e da região gira em torno da Zona Franca de Manaus, mas isso tem um prazo de validade e é importante que outras matrizes econômicas sejam desenvolvidas”, diz Vânia Capela, presidente da APDM e diretora de negócios do Instituto Sidia. “Além disso, como a tecnologia atravessa todos os setores relevantes para a economia da região, é extremamente importante que esse ecossistema seja estabelecido.”
Segundo Vânia, a expectativa é que todos os institutos públicos e privados de pesquisa da região, bem como universidades e startups se juntem à associação: “A ideia é que todos trabalhem juntos para o desenvolvimento do ecossistema, de forma colaborativa.”
A associação terá 19 conselheiros do setor privado, academia e governo. A exemplo do que ocorre no Porto Digital, a participação do setor público é minoritária na associação manauara e cinco cadeiras serão reservadas para o governo. Os convites serão enviados aos novos conselheiros nesta semana.
A definição do planejamento estratégico e das entregas para os próximos meses estão entre as prioridades atuais da APDM. Um projeto importante é a terceira edição da Feira do Polo Digital de Manaus, conferência de empreendedorismo e inovação onde as competências da cidade que reuniu mais de 20 mil pessoas em três dias de conferência no ano passado. O evento deve ocorrer no quatro trimestre de 2020.
DNA RECIFENSE
A conexão do Porto Digital com o novo momento do ecossistema manauara se deu pelo reconhecimento dos resultados obtidos no desenvolvimento de negócios de base tecnológica em Recife, aliado ao impacto social positivo na comunidade local.
“O Porto Digital serviu de inspiração para nós, por ser um projeto que conseguiu estruturar o ecossistema e ao mesmo tempo, revitalizar o centro histórico do Recife Antigo”, diz Vânia. “Em Manaus, também temos um patrimônio histórico muito rico, mas que foi se perdendo ao longo dos anos.”
Para endereçar os aspectos de revitalização do centro histórico no contexto da criação do distrito de inovação tecnológica, a prefeitura de Manaus contratou Cláudio Marinho, um dos criadores e conselheiros do Porto Digital, como consultor do projeto.
A agenda da APDM deve convergir com a implantação e governança do distrito, que terá o Hotel Cassina, construído no século 19, como seu epicentro. A prefeitura está investindo R$ 12,9 milhões na restauração e mobiliário do casarão que abrigará os diversos atores do ecossistema e a própria APDM, e a obra deve ser concluída em setembro de 2020. Outros prédios históricos no entorno do Cassina, além de uma segunda área, em torno do Teatro Amazonas, também estão sendo considerados como potenciais áreas a serem ocupadas por negócios ligados à inovação.
Uma das principais características do Porto Digital, que também estará presente em Manaus, é o que Marinho chama de “walkability”, ou seja, poder caminhar facilmente de um ponto a outro dentro da área onde o ecossistema está situado. A ideia é facilitar a mobilidade e, consequentemente, o bem estar de quem trabalha no distrito e, claro, os negócios.
Falando sobre a delimitação da área do pólo digital, Marinho explica que o raio máximo a partir de um ponto principal (no caso de Manaus, o Hotel Cassina ou o Teatro Amazonas) precisa ser de, no máximo, 350 metros. “[A facilidade de se deslocar a pé] é o que permite os encontros fortuitos que geram e redefinem negócios”, ressalta.
Segundo Fred Arruda, CEO do CESAR, a intenção é que a experiência do Porto Digital atue como um agente protagonista no desenvolvimento do ecossistema de inovação manauara: “Trazemos o DNA de Recife para o projeto de Manaus, mas sempre respeitando a agenda e cultura locais”.
A equipe de Manaus do CESAR é predominantemente local e atualmente tem 30 pessoas. A intenção é expandir o time para 100 colaboradores nos próximos quatro anos. Outro objetivo é aumentar a oferta educacional do CESAR em Manaus, que inclui cursos como o primeiro mestrado em engenharia de software do Brasil.
“Queremos alavancar o empreendedorismo local, promover a formação de doutores e mestres na região amazônica e fazer com que grandes empresas nacionais olhem para Manaus como um pólo fornecedor de soluções de tecnologia”, ressalta.
Fonte: forbes.com.br